A Residência em Pinheiros, projetada por Ermínia Maricato na década de 1970, é um exemplo notável de como a arquiteta integrou influências de grandes nomes da arquitetura brasileira, como Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império, com quem tinha grande afinidade intelectual e profissional. Maricato, em depoimentos sobre o projeto, destacou a importância dessas referências na concepção da casa, que reflete a busca por soluções arquitetônicas econômicas, inovadoras e socialmente comprometidas, características centrais da chamada “escola paulista” de arquitetura.
O projeto se destaca pela utilização predominante do tijolo de barro aparente, material que confere à residência uma estética rústica e ao mesmo tempo sofisticada. Esse recurso não se limita apenas às paredes: o teto abobadado em tijolos, uma solução estrutural eficiente e esteticamente marcante, remete diretamente à arquitetura de Ferro, Lefèvre e Império, que frequentemente exploravam a simplicidade dos materiais locais em formas inovadoras e ousadas.
As caixilharias, em um vermelho vibrante, adicionam um contraste dinâmico ao conjunto, criando um jogo de cores que valoriza o tijolo e confere um caráter mais lúdico e expressivo à construção. Já na cozinha, Maricato optou por tons de caramelo nos armários e no piso, uma escolha que faz referência direta ao emblemático edifício da FAU-USP no Butantã, obra que influenciou gerações de arquitetos e serviu como modelo de como materiais simples podem ser elevados a um status quase escultural na arquitetura.
Essa residência é um testemunho do compromisso de Ermínia Maricato com uma arquitetura que, além de esteticamente impactante, dialoga com a realidade social e econômica do país, sempre buscando unir funcionalidade, beleza e racionalidade no uso dos materiais. Ao mesmo tempo, estabelece um elo profundo com o brutalismo paulista, consolidando-se como uma obra que carrega em cada detalhe as marcas de uma época e das ideais transformadoras de sua autora e seus influentes pares arquitetônicos.